Restos de Colecção

14 de abril de 2024

Hotel das Nações

O "Hotel das Nações", propriedade de Luiz Augusto Brandão, foi inaugurado em 13 de Janeiro de 1887, no 1º andar do número 85, da Rua da Magdalena, em Lisboa. Não confundir este hotel com outro, com nome muito parecido: "Hotel Duas Nações" , localizado na esquina da Rua Augusta com a Rua da Vitória, inaugurado em 23 de Fevereiro de 1879 e ainda em funcionamento.


Foto de 6 de Julho de 1901

Quando investiguei acerca deste hotel, verifiquei que apesar de, a partir de certa altura, já ocupar o edifício inteiro, (que não era nesse tempo fácil encontrar em Lisboa congéneres nessa dimensão), não existir quase publicidade alguma, tanto em jornais, como em revistas ou almanaques. A resposta foi-me dada pelo pequeno artigo que o jornal "Vanguarda" escreveu, em 13 de Janeiro de 1907, por altura do vigésimo aniversário desta unidade hoteleira, e que passo a transcrever na sua maioria:

«A "Vanguarda", lembrando esse anniversario, ufana-se de pôr em destaque um dos homens mais activos e trabalhadores do nosso meio e que, unicamente pelo seu esforço, pela sua tenacidade e pela sua intelligencia, se tem sabido impôr á estima e á consideração de todos - o sr. Luiz Augusto Brandão. Foi elle que em 13 de janeiro de 1887, metteu hombros a essa empreza; é ele que ainda hoje se encontra á testa do estabelecimento que fundou, esforçando-se a cada passo pelo seu desenvolvimento e pelo seu progresso.
Occupando de principio apenas o primeiro andar do predio do largo da Magdalena, 85, Luiz Augusto Brandão conseguiu á custa de muito trabalho e sacrificios, tomar todo o edificio e colocar o Hotel das Nações á altura d'um dos primeiros da capital, no seu genero.



14 de Janeiro de 1893


1900

Não careceu Luiz Brandão, ou o "Luiz das Nações", como vulgarmente é conhecido, de fazer propaganda ou o mais leve reclame do seu estabelecimento. Foi a propria clientella que assumiu gostosamente esse encargo, attenta a forma como alli era tratada.
E assim a provincia, nomeadamenteo Alemtejo - onde não ha lavrador ou familia abastada que não conheça o "Luiz das Nações", e que não preste inteira justiça ao seu caracter e ao seu grande coração - começou de affluir ao hotel e a acredital-o.
Em sua casa teem estado como hospedes, conservando-se alli o largo espaço de tempo destinado aos seus estudos, os filhos das principaes familias alentejanas, que hoje occupam os primeiros logares da sociedade, quer na magistratura, quer nas sciencias e nas artes, quer no exercito, etc. (...)
O pessoal da casa, na sua maior parte, com largos annos de serviço, e que tem sido um valioso auxiliar da sua obra, encontra em Luiz Augusto Brandão, não um chefe ou um patrão severo, mas um amigo, verdadeiro e bom, digno do maior respeito e dos mais acrisolados affectos.»


1908

1913

Pelo exposto, acho que este hotel funcionaria, na sua essência, como uma casa de hóspedes de grande dimensão, que albergava, entre outros, estudantes do Alentejo e Algarve, durante os anos dos seus cursos. Por esse facto não necessitava de fazer publicidade a nível global, talvez mais nas regiões do Alentejo e Algarve. Faz-me lembrar o filme português "Encontro com a Vida" realizado por Arthur Duarte em 1960, protagonizado por Rogério Paulo, em que um rapaz se hospeda na "Pensão Laura", em Lisboa, durante os anos que "tentou" tirar o curso de Medicina.

Por falar em casa d'hospedes e nações ...


13 de Janeiro de 1897

Outro pequeno hotel (só num piso) era vizinho, em frente e no mesmo Largo da Magdalena: o "Hotel Pinto & Minho", de João Antonio da Silva Pinto, com entrada pela Travessa das Pedras Negras, nº 1 ...


"Hotel Pinto e Minho" no 2º andar, aquando da procissão da Nossa Senhora da Saúde


20 de Junho de 1891

E na mesma Rua da Magdalena, mas com a entrada principal pela Rua dos Fanqueiros, ainda outro: o "Novo Hotel Pelicano", que se tinha instalado no prédio que tinha substituído o "Theatro de D. Fernando", com frente para a Rua dos Fanqueiros.

"Novo Hotel Pelicano" - frente para a Rua da Magdalena


1896

Não sei quando encerrou definitivamente o "Hotel das Nações", até porque como já referi anteriormente, a sua presença em publicações era quase nula. Talvez nos anos 20 do século XX.

Prédio onde esteve instalado o "Hotel das Nações", actualmente

fotos in: Hemeroteca Digital de LisboaArquivo Municipal de Lisboa

7 de abril de 2024

Club "Palais Royal" e "Castelo das Canas"

No primeiro trimestre de 1919, o casino e restaurant-club "Palais Royal" instalava-se no nº 3 da Avenida da Liberdade, esquina com a Calçada da Glória. Até então, e desde 1912, tinha funcionado nesse mesmo edifício a "Casa de Saúde para Cirurgia" do Dr. Henrique Bastos, especializada em doenças das vias urinárias e dos rins.

"Casa de Saúde para Cirurgia", e a partir de 1919 "Palais Royal"


1912

Este edifício terá sido construído no final da década de 70 do século XIX, contando apenas com um piso acima do solo. Em 1909, é adquirido pelo Dr. Henrique Bastos, (então estabelecido no Largo da Anunciada, nº 9) que confia ao jovem arquitecto Manuel Joaquim Norte Júnior (1878-1962) o projecto de acrescentar um 2º piso e nova fachada para o edifício. A obra ficaria concluída em 1912, ano que se instala a Clínica. Como refere o jornal "Folha de Lisboa" em 1916 «Foi expressamente construida para o fim em que está ocupada, e sob as vistas do proprietario; por isso é inutil acrescentar que tanto a construção como as instalações não podiam deixar de ser como são, perfeitas e completas ...» 


O edifício na sua configuração original, ainda só com 1 piso


Já com a nova fachada e mais um piso e acabado "de fresco"

No 1º piso funcionava o consultório da especialidade, o Museu instalado na galeria que ligava o laboratório com a sala de esterilizações. A seguir ficavam os Laboratórios, já construídos depois da inauguração da Clínica e que se compunham de sala de análise química e anatomia patológica. Por elevador chegava-se ao 2º piso onde ficava a sala de operações, quartos para os pacientes - «cada um dos quaes está isolado dentro d'uma caixa de ar constantemente renovado, e tem mobiliario conveniente segundo as exigências do estado do doente; todos têem campainhas electricas que permitem chamar o pessoal de serviço em qualquer ocasiaão, ao mesmo temp que se acende uma lampada á porta do quarto» -, quartos dos assistentes, aposentos do pessoal, etc. De referir que o Dr. Henrique de Barros era assessorado pelos Dr. Natal Garcia e João Bastos Lopes.

Um dos últimos anúncios, este de 25 de Maio de 1918, antes de encerrar em definitivo

Esta Casa de Saúde encerraria em 1919 , ano em que se instala o club e restaurante "Palais Royal", propriedade da firma "Restaurant Club Avenida, Limitada" sendo seu diretor Francisco José Ramalho. Como todos os clubs nessa época funcionava também como casa de jogo.

Nos finais da segunda década do século XX e anos 20 do mesmo século, jogava-se em todos os principais clubes nocturnos lisboetas. Nos primeiros anos 20 do século XX, as principais casa de jogo de Lisboa eram o "Maxim’s - Club dos Restauradores", "Palace Club", "Magestic Club", "Regaleira Club", "Ritz-Club", "Clube dos Patos", "Bristol Club", "Club Internacional", "Rocio Club", "Brazil Club", "Club-Central", "Palais Royal", "Olympia" e o "Club Montanha".

E para evitar surpresas (?), ou melhor, um descaramento inaudito como este, relatado em 16 de Outubro de 1894 em Cascaes ...

A bem da moral e bons costumes, eis que, em 13 de Janeiro de 1921 ...


13 de Janeiro de 1921

Pelo que ...

19 de Julho de 1921

Sol de muito pouca dura e tudo voltou ao mesmo, até ao encerramento compulsivo dos restaurantes (também) que viria a ser interrompido durante o Carnaval de 1925, devido à visita de muitas delegações estrangeiras, por ocasião do IV Centenário de Vasco da Gama. E para dar "ar" de país evoluído, o regime republicano lá permitiu durante 4 dias a sua abertura, para logo de seguida os mandar fechar de novo ...

Aqui fica o apontamento publicado no jornal "A Capital" em 23 de Fevereiro de 1925:

Os jogos mais concorridos eram a roleta, o bacarat e a banca francesa, todos jogos de azar proibidos. Mas também se jogava bilhar, mah-jong, king, e bridge, embora estas modalidades fossem menos concorridas. Os clubes possuem salas de jogo separadas do salão do restaurante e dancing, cujo ambiente contrasta com o resto do clube.

Em 1 de Março de 1919 e por ocasião do Carnaval o jornal "A Capital" publicitava:

«Terminaram, estão completamente concluidas as elegantes decorações do grande salão de baile do Palais Royal, realizadas sob  a direcção do distincto decorador José Campos. São verdadeiramente encantadoras, pela originalidade dos motivos e abundante distribuição de luz que a enriquece.
O sexteto para as tres noites de baile é dirigido pelo distincto maestro Nicolino Milano, um artista que toda a Lisboa conhece e que justificadamente tem aplaudido quer como compositor, quer como director de orchestra. E' variadissimo o programa musical das tres noites escolhido "adrede", e grande parte d'elle desconhecido em Lisboa.
A direcção do Palais Royal prepara grandes surprezas para os tres magnificos bailes que vae dar. Assim quer no salão, quer no bufete, que será ricamente fornecido, os frequentadores do Palais Royal vão passar tres esplendidas noites, sem duvida as melhores que se preparam em Lisboa.
Todos sabem que o Palais Royal é o primeiro casino alfacinha. O mundo "chic" que o frequenta é de absoluta selecção, e o conjuncto da assistencia das suas salas aos elegantes e magnificos jantares e bailes, verdadeiramente elegante. Annunciando, pois, os bailes carnavalescos, a empreza annuncia tres verdadeiras festas de sociedade, revestidas de tudo quanto existe de mais fino e bem installado.
Devem ser surprehendentes, de verdade, os bailes do Palais Royal.»


Foto de Novembro de 1918. Atente-se ao logradouro nas traseiras do edifício, na Calçada da Glória

Finalmente, a publicação do Decreto n.º 14.463, de 3 de Dezembro de 1927, veio pôr termo, em Portugal, a uma tradição já secular de proibição do jogo. Com efeito, dispunha o Código Civil de 1867, que «o contracto de jogo não é permitido como meio de adquirir». Ademais, também o Código Penal de 1886 criminalizava a atividade de exploração de jogo, a profissão de jogador e o jogo ocasional.

No entanto, o desejo de jogar apresentava-se como uma realidade incontornável. Neste sentido, dispunha o preâmbulo do Decreto n.º 14.463, de 3 de Dezembro de 1927, que «o jogo era um facto contra o qual nada podiam já as disposições repressivas».

«Reconhecida a ineficácia da repressão, a regulação produzida visou definir as condições em que o jogo se podia desenvolver e quem o podia praticar. Foram criadas zonas de jogo, que pretendiam assegurar as condições necessárias à respetiva prática num ambiente controlado, com garantias de idoneidade e reduzindo ou anulando o interesse pelo jogo clandestino e ilícito. Foi também evidente a alteração de paradigma que pautou a atuação do Estado, ao abandonar a repressão penal e procurar modular comportamentos através do instrumento fiscal. A tributação do jogo assume-se, assim, historicamente, como um elemento regulatório efetivo.» in: "Diário da República"

Entretanto e, ainda em Junho de 1919, Francisco José Ramalho inaugura num logradouro nas traseiras do edifício do "Palais Royal", o "Castelo das Canas". Um edifício a imitar um pequeno castelo e que não era mais que uma cervejaria, com «esmerado serviço de restaurant, que é dirigido por três chefes de cosinha, o da portugueza, o da franceza e o da hespanhola».


Logradouro em ambas assinalado por uma elipse vermelha


Lograduro atrás do muro à direita da foto e do elevador

Nota: Quanto ao logradouro é mais nítido e visível na primeira foto deste artigo, logo no início



7 de Julho de 1919

Uma vantagem deste estabelecimento era o facto de ... «Do Castelo das Canas comunica-se tambem com as magnificas salas do Palais Royal que, mobilado luxuosamente e com o requintado gosto artistico, se pode considerara uma das primeiras casa do seu genero.»

O "Palais Royal" encerraria definitivamente no final de 1924. Presumo que o "Castelo das Canas" não terá tido sucesso e terá encerrado bem antes, pois exceptuando a página da "Illustração Portugueza" que publiquei, nunca encontrei referência alguma a este estabelecimento.

Último anúncio publicitário em 1 de Março de 1924

No lugar do "Castelo das Canas" viria a ser erguido um prédio de habitação - nº 2 da Calçada da Glória -, igualmente projectado, em 1926, pelo arquitecto Manuel Joaquim Norte Júnior, e que já tinha projectado, em 1925, a mansarda do edifício do "Palais Royal". Quanto ao edifício do "Palais Royal" ... As lojas seriam ocupadas pela importadora dos automóveis americanos "Dodge Brothers" e camions e omnibus "Unic", a firma "Bernardino Correa & C.ª", e que por lá permaneceria até ser substituída pelo café "Palladium", inaugurado em 17 de Dezembro de 1932, enquanto que no restante edifício, e a partir de finais de 1928 se instalou a sede da "Sociedade Comercial Philips Portuguesa".


Já com o novo edifício construído nas traseiras, e na Calçada da Glória, nº 2, em foto de 1928

fotos in: Hemeroteca Digital de LisboaArquivo Municipal de LisboaBiblioteca Nacional Digital, Museu de Lisboa

31 de março de 2024

Ribeiro Oculista

A casa "Ribeiro Oculista", foi fundada em 1858 como "J.J. Ribeiro", nome do seu fundador José Joaquim Ribeiro, na Rua do Ouro 222 e 224, em Lisboa. José Ribeiro era já então um técnico de comprovado valor, tendo anteriormente feito exame profissional na "Casa dos Vinte e Quatro". Rapidamente atingiu posição destacada entre os melhores e mais reputados estabelecimentos do país, no ramo de oculista, instrumentos de precisão e aparelhos de laboratório.

Jose Joaquim Ribeiro


1877



Oculista e catálogo no final do século XIX e início do século XX

1880

Por sua morte, em 1903, a casa continuou a funcionar sob a firma "J.A.Ribeiro & C.ª ", firma de que faziam parte, além do fundador, seus sobrinhos Joaquim Aleixo Ribeiro e Leonardo Martinho Ribeiro. Joaquim Aleixo Ribeiro tinha tirado o curso no antigo "Instituto Industrial de Lisboa", após o qual ingressou na firma, como empregado em 1884, vindo a ser-lhe dada sociedade em 1892. Por morte de Leonardo Martinho Ribeiro, ficou como único proprietário da firma, tendo dado, sociedade, a alguns dos seus filhos, sucessivamente, sendo em 1946 seus sócios José Joaquim Ribeiro, Álvaro Ribeiro e Mário Gabriel Ribeiro.

"Ribeiro Oculista" na Rua Aurea 222-226


                                                    1934                                                                            1959

«J.A. Ribeiro & C.ª, cujas instalações e oficinas são hoje modelares e apetrechadas com a mais moderna aparelhagem da especialidade, representa no páis ou em Lisboa algumas das mais reputadas casas produtoras estrangeiras. Vendendo directamente para todo o continente, J.A. Ribeiro & C.ª fornece seleccionada clientela.» in: "Praça de Lisboa" (1946).

"Ribeiro Oculista" (à esquerda na foto dos anos 60 do século XX)

                                                   1961                                                                                1964

Em 1949, é fundada por José Joaquim Ribeiro outra loja de oculista a "Óptica Jomil" de  "Jomil Ldª ", na mesma Rua do Ouro, mas no 249, ao lado da "Ourivesaria Sarmento" (fundada em 1870). A sigla Jomil é o acrónimo de Jo - de José - mi de Maria e L de Leonardo - os filhos do fundador José Joaquim Ribeiro, avô do actual detentor. O mobiliário e estantes actuais são de origem, em madeira maciça de castanheiro, restauradas em 1998. Para o seu dono Sr. José Ribeiro, «A Jomil é única por se manter na mesma família, uma família de ópticos há 6 gerações: embora antiga tentamos posicionarmo-nos no mercado virados para o futuro e não estagnar».




"Óptica Jomil"

27 de março de 2024

Eduardo da Fonseca - Músico e Armazém de Músicas

Eduardo da Fonseca (1863-1938) foi um professor de música, compositor e editor musical, natural do Porto, cidade onde fundou a casa editora de músicas "Armazem de Musica, pianos e outros instrumentos de Eduardo da Fonseca", na Praça de Carlos Alberto, n.º 8, no Porto. Recebeu as insígnias de Cavaleiro da Ordem Militar de N.ª S.ª da Conceição de Vila Viçosa em 1892 e da Ordem de S. Tiago da Espada. Foi sócio correspondente da "Societé des Auteurs et Compositeurs de Musique" de Paris e do "Centro Musical Paraense" no Brasil, membro da "Comissão Portuense de Música Sacra", consócio do "Orfeão Lusitano" e do "Grupo de Santa Cecília".


Eduardo da Fonseca (1863-1938)



Praça de Carlos Alberto (lado ocidental)


Praça de Carlos Alberto (lado oriental onde se localizava a casa Eduardo da Fonseca)

A casa editora de música mais antiga do Porto foi a "Villa Nova, Filhos & Comp.ª " (1850-188?) e fundada por Carmine Alário Villa Nova. A sua atividade deveria estender-se à revenda de partituras estrangeiras e comércio de instrumentos musicais, pois num anúncio inserido no "Mundo Elegante" de Fevereiro de 1860, Villa Nova menciona uma lista extensa de partituras vendidas no seu estabelecimento, a qual incluía edições estrangeiras e de outros editores nacionais. Possuía oficina litográfica própria. A sua actividade terminaria na década de oitenta do século XIX como "Viuva Alario Villa Nova, Editora".


Partitura editada pela "Villa Nova, Filhos & Comp.ª ", em 1858

Em 1876, estabelecia-se no Porto a "Costa Mesquita Casa Editora de Musicas", apresentando simultaneamente, no rodapé de imprensa das partituras, duas moradas, uma localizada na Rua D. Pedro 94-96 e, outra, na Rua Nova do Sá da Bandeira 194-196. A partir de 1882 abandona a primeira morada, passando a mencionar apenas a segunda e altera a razão social para «Costa Mesquita Casa Editora de Musicas», indicando oficina litográfica própria, onde passa a imprimir todas as suas edições. É neste segundo período que publica o periódico "Orpheon: Contribuições para a Litteratura Musical", publicação mensal, cujo redator era o músico e maestro Bernardo Valentim Moreira de Sá (1853-1924) que fundaria a casa de música "Casa Moreira de Sá" em 20 de Dezembro de 1900 na Rua de Santo António, no Porto. A actividade comercial da "Costa Mesquita Casa Editora de Musicas" terminaria em 1891 com a denominação de "Viuva Costa Mesquita".


20 de Dezembro de 1890

E seguindo a ordem cronológica - indicando só editores de partituras - , chegamos a Eduardo da Fonseca que se estabelece na Praça de Carlos Alberto, 8, no Porto em 1890 com o seu estabelecimento "Armazem de Musica, pianos e outros instrumentos de Eduardo da Fonseca".

Para além de professor e editor de música, folclorista e compositor de música sacra, foi também autor de várias peças para piano, como valsas, polkas etc., anunciadas como de meia força ao serem publicadas pela sua casa editora de músicas no Porto. 


22 de Novembro de 1889

5 de Março de 1890

As novidades musicais da sua casa editora de músicas anunciadas em 1892 incluíam já "A Portuguesa", a marcha patriótica de Alfredo Keil que está na origem do futuro "Hino Nacional". Uma outra edição anuncia a das "Cenas Portuguesas" n.º 1 a 3 de Viana da Mota (1868-1948). Entre outros autores de obras publicadas pela casa editora encontram-se Pedro Blanco, Júlio Moutinho, A. Soller, B. Gouveia, F. Roncagli, A. Viana, Mutz, Lowthian, A. Lobo, X. Lopes, N. Ribas e A. Ferreira.

Recordo que, Eduardo da Fonseca actuava como executante de violoncelo num concerto de Ciríaco Cardoso (1846-1900), no "Theatro Baquet" (1859-1888) na noite do seu incêndio em 21 de Março de 1888.

Colaborou no "Cancioneiro de Músicas Populares" de César das Neves e Gualdino de Campos (1847-1919), que obteve o Grande Diploma de Honra da Exposição da Imprensa de 1898. Foi autor da transcrição para canto e piano das "Poesias e Canções Populares" do concelho da Maia recolhidas por A. Monteiro e revistas por S. Rocha em 1900.


1891


1893


Uma curiosidade: Eduardo da Fonseca escreveu, em 1913, a música para a opereta em 2 actos, "A Vivandeira" sobre o texto de António Baptista Alves de Lemos. A curiosidade está no facto de Alves de Lemos (autor de vários libretos teatrais) ser o proprietário da "Farmácia Lemos & Filhos", também localizada na Praça Carlos Alberto, 31. É uma das farmácias mais antigas do Porto, fundada em 1780 pelos frades Carmelitas do Carmo., a quem pertenceu até 1801.




1908


1913


Em 21 de Junho de 1935, e no "Teatro Carlos Alberto", teve lugar um Sarau d'Arte comemorativo do XIII aniversário do "Orfeão Lusitano" em homenagem ao seu ilustre consócio e distinto musicólogo Professor Eduardo da Fonseca com direcção Artística do Professor Afonso Valentim. Foram oradores neste sarau o Dr. Bento Carqueja e o Eng. Osvaldo Maia. Actuaram, para além do "Orfeão Lusitano" dirigido por Afonso Valentim, o tenor Gastão Mineiro, que cantou obras de Eduardo da Fonseca, a violinista Maria Carolina da Silva e os pianistas Clotilde Lobo e César Augusto Ribeiro de Morais. 

Abril de 1930

Com a morte de Eduardo da Fonseca,  em 14 de Março de 1938, com 74 anos, terminaria a actividade da sua casa comercial, que funcionava já sob a razão social de "Eduardo da Fonseca & Filhos".

Bibliografia:

- "La edición musical en Portugal (1834-1900): un estudio documental" de Maria João Durães Albuquerque - Universidad Complutense de Madrid - Obtenção de Grau de Doutora em 2014.